segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cidadania? Que bicho é esse??


Sete em cada dez alunos não sabem o que é democracia, nem quais são seus direitos, diz estudo da Unopar

Londrina - Conceitos básicos de cidadania têm passado longe dos alunos brasileiros que cursam o ensino médio. Isso é o que revela uma pesquisa realizada recentemente pela Universidade Norte do Paraná (Unopar) com 1.012 alunos da rede pública de Londrina, Chapecó (SC) e Passo Fundo (RS), entre fevereiro e julho deste ano.


Os números surpreendem: 70% dos entrevistados não sabem quais são seus direitos sociais; 78% desconhecem o que é a Constituição Federal do Brasil; 40% não conhecem os Três Poderes; 68% ignoram o que faz um deputado estadual; e 70% não sabem o que é democracia e nem como participar dela.
O trabalho, desenvolvido dentro do projeto de pesquisa Pedagogia Cidadã, dos cursos de Direito e Pedagogia da universidade, revelou ainda que cerca de 65% dos alunos acreditam que os conteúdos do ensino médio não são adequados para as exigências do mundo atual e 52% acreditam que o ensino médio não prepara o aluno para o exercício da cidadania.

O professor André Trindade, coordenador do projeto e diretor do Centro de Pesquisa em Ciências Sociais aplicadas da Unopar, não esperava que os números fossem tão expressivos. “O jovem não tem consciência de cidadania porque não tem acesso à informação de qualidade sobre o assunto”, diz ele.

Segundo ele, o objetivo principal do estudo é verificar as possibilidades e o interesse dos alunos em aprender sobre Di­­reito e Cidadania. Os dados serão enviados para o Ministério da Edu­cação, às secretarias de educação dos três estados – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, à Ordem dos Advogados do Brasil e à Associação Brasileira de Ensino do Direito. “Vamos estudar como criar metodologias para inclusão da matéria na grade curricular. São conceitos de vivência diária de qualquer cidadão: o ensino deve preparar os estudantes para exercer a cidadania”, sugere Trindade.


Na pele

Gabriela é estudante de Direito e uma das responsáveis pela pesquisa. Ela própria personifica os resultados do estudo. “Eu estudei em escola pública e só fui conhecer alguns conceitos básicos de cidadania na universidade”, confessa. “Alunos do ensino médio já podem votar, mas eles nem sabem com certeza qual seria a função de um deputado estadual”, pondera.

Para ela, a formação jurídica nas escolas é possível através da interdisciplinaridade. “O Estado não pode cobrar que o cidadão conheça seus direitos e deveres se não dá condições de formação adequada.”

A pesquisa revelou que, apesar de desconhecerem a matéria, 65% dos alunos pesquisados são a favor de conteúdos sobre Direito e Cidadania no currículo escolar. Vinícius de Moraes Lopes, de 15 anos, é um deles. “Mesmo tendo alguns conteúdos de Ciências Sociais na grade, para conhecer melhor sobre esses assuntos é necessário que o aluno tenha interesse: tem que pesquisar.”

Roberta Alves dos Santos e Pamela Vieira, de 16 anos, concordam que o ensino de Direito e Cidadania deva existir, mas que as escolas também devem promover a cidadania no dia a dia do colégio. “É importante que isso chegue a todos, porque não há democracia sem igualdade de direitos”, diz Roberta.

Reflexos


Especialista critica família


“Os dados da pesquisa apenas refletem a falta de cidadania ente os brasileiros.” Dessa forma o cientista político Mário Sérgio Lepre resume o resultado da pesquisa. Para ele, o desinteresse da sociedade sobre os próprios direitos e deveres é fruto do individualismo. “Falta às pessoas a ideia de pertencer à sociedade. Existe uma preocupação maior com questões fúteis do cotidiano.”

Além disso, o especialista acredita que o dever de incutir o interesse pela cidadania nos jovens não deve ser apenas das escolas. “A família tem de transmitir outros valores, como, por exemplo, a leitura. O brasileiro não tem ligação com a leitura, muito menos com o pensar”, diz Lepre.

Essa deficiência, segundo ele, gera reflexos na política, na economia e na cidadania. “Trabalhar com ideias é visto como algo pesado e distante para boa parte da sociedade. Falta perceber que algumas coisas são extremamente importantes para a vida social.”

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